Há desses tipos de amor que o tempo não leva e nem a morte, e que de tanto amarmos chegamos a julgarmo-nos parte do outro, mais do que da história do outro, achamo-nos parte do corpo dele. É dum tipo de amor que não gasta e nem passa, parece zumbi pela vida, sonâmbulo, como se nada pudesse contra sua imortalidade. Faca, traição, bala perdida, não não.Ao falarmos desses amores, mesmo que seja pra eles e principalmente nessas ocasiões, não cabemos nem em palavras e nem abraços e nem fundos olhares, porque é um tipo de amor insignificável e altamente impleno, sempre, eterno ciclo e autoreciclador.Os amados deste amor trazem como que na testa a mandala dos escolhidos, aparecem-nos na vida e tatuam-se entre as fotos e os dias desesperados e os almoços de família e os futuros que ficamos pra sempre planejando em comum. Não há nada que eles tenham feito de merecedor, apenas os amamos sem fim nem motivo, apenas queremos-os pra sempre e mais meia hora. E não há nada que possam fazer de errado, porque tudo entre nós se constrói e se destrói e se faz, e se dói e se fala e se come e se ama novamente e como nunca.A espécie de gente a quem damos este amor tem gosto de pele e jeito de bichos bonitos. Suas cores impregnam-se nas retinas em geral e os outros seres humanos ficam pro resto da vida se apaixonando e desapaixonando por eles, porque são como cobras e rastejam entre nossos desejos, mas são também pequenos passarinhos brancos, estúpidos, ingênuos - querendo pipoca. Não há quem no mundo não tenha se apaixonado e se desapaixonado por eles em seguida. O signo dessa gente é necessariamente o escorpião, e aniversariam no primeiro dia do mês das chuvas da primavera.Cuidado. São duas medusas ao contrário. Ao vê-las, ao invés de pedra, volvemo-nos gelatina cor-de-rosa, e já não podemos viver sem olhá-las pro resto da vida.
SEM OLHAR ...
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